segunda-feira, 14 de outubro de 2019 12:14
Sucesso da saúde financeira nem sempre depende de ganhos altos e há quem prove que organização e controle valem muito mais na hora de manter as contas em dia
Dois salários mínimos por mês. Foi com essa quantia que a profissional de serviços gerais, Maria José dos Santos, 56, conseguiu comprar terreno, construir a casa e mobiliá-la. Formou dois filhos em universidade particular e ainda ajudou cada um deles a comprar o primeiro carro.
Não aconteceu do dia para a noite. Mas a lista de conquistas é de dar inveja. Ela saiu de Alagoas para São Paulo aos 14 anos com a ideia fixa de melhorar de vida e realizar uma série sonhos. E não é que vem dando certo? Nos mais de 30 anos trabalhando na grande metrópole, conseguiu não só a casa própria, mas comprar um segundo imóvel.
Maria também viaja todo ano nas férias, empresta dinheiro para pessoas próximas e não deixa aniversário nem Natal passar em branco. Tem presentinho, sim. Já deu até uma máquina de lavar de presente. E nos dias em que não está de bem com a vida, se permite um mimo, uma blusinha, uma comida gostosa mais cara.
Claro que ganhar dinheiro é importante na hora de organizar as contas, viver sem dívidas e investir. Mas há pessoas, como a Maria José, que fazem pouco dinheiro render muito e mostram que ter uma vida financeira saudável e equilibrada vai muito além de um salário alto.
Não são acadêmicos ou palestrantes, mas gente comum que usa estratégias que dão certo e consegue viver com o nome limpo na praça. Mesmo com renda familiar de até dois salários mínimos por pessoa, eles saem com o saldo positivo todo mês. Não caem na lista de inadimplentes e nem recorrem a empréstimo. Tudo isso sem aplicações rentáveis ou milagrosas, apenas com o salário.
Henry, o ex-gastador convertido
Você está no vermelho e não sabe por onde começar? Num passado nem tão distante, o motorista de aplicativo Henry Costa, de 32 anos, estava com o nome sujo na praça.
Ele caiu na armadilha do rotativo do cartão de crédito, um dos juros mais caros do Brasil. As ligações do banco, de cobrança, eram constantes. Mas Henry se planejou e, em um desses contatos, abriu uma negociação para quitar a dívida. Sem “descobrir um santo para cobrir o outro”.
A estratégia foi juntar, aos poucos, o dinheiro necessário para pagar tudo de uma vez só e negociar o melhor desconto nas multas.
“Eu era mais jovem e achava que tudo podia passar no cartão de crédito e a fatura nunca ia chegar. Passei uma temporada morando com meus tios e meu tio me ensinou que para viver não precisa ganhar rios de dinheiro, mas precisa aprender a viver com o que se ganha”, lembra.
Depois disso, nunca mais se enrolou. Hoje paga pensão para um filho e sustenta os dois enteados e a esposa, que está em processo de mudança de carreira. Tudo isso ganhando de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês. A renda familiar não chega a um salário mínimo por pessoa.
“Quando entrei na Uber, entrei com carro alugado e o nome sujo. Quitei a conta que tinha pendente e comprei o carro. Tenho 48 meses pra pagar, mas vou quitar em 24 meses. Já consegui adiantar as parcelas. Eu sei que pagando adiantado, eu vou cortar muito juros”, afirma.
Com o trabalho no aplicativo, ele não tem as benesses do trabalhador CLT, como férias pagas e 13º salário. Mesmo assim, garante que, com planejamento, vai conseguir ficar longe do trabalho uns dias para viajar com a família ainda este ano.
Para Monique, menos é mais
O consumismo passa longe da casa da empregada doméstica Monique Rosa de Souza, de 30 anos. Ela adota um estilo minimalista e segue o lema do não deixar faltar nem sobrar. O guarda-roupas e a sapateira são enxutos. Só o essencial, sem acúmulos.
“Eu compro um par de tênis, quando acaba, compro outro. Só o básico mesmo. Não temos a vida social de sair todo fim de semana, comprar tudo que vemos ou gastar sem necessidade. Mas também não perco uma noite de sono com dívida. Me preocupo com relação à saúde dos meus filhos, mas dívida não”, conta.
Os dois filhos de Monique ainda estão em idade escolar e moram com o casal. Ela tem emprego fixo e conta com pouco menos de dois salários mínimos por mês. O marido é azulejista autônomo e alguns meses ganha até mais que ela. Em outros, nada.
Por isso, o controle mês a mês é fundamental para nunca precisar pedir empréstimo. Ela paga as contas fixas e ele, quando recebe, guarda para os momentos de instabilidade.
Quando Monique diz que tem o básico, não é viver necessitado. É ficar longe das tentações. A família tem carro, mora em casa alugada de dois quartos, com duas televisões, geladeira novinha e até uma máquina de lavar de 17kg (essas são mesmo mais cara que as menores).
Pessoas como Maria, Henry e Monique simplesmente têm talento na gestão das finanças pessoais. Mas não desanime se você não faz parte desta seleta minoria (foi difícil de achá-los até para fazer esta matéria). Ainda é tempo de aprender, e eles ensinam 8 lições para ter saúde financeira.
Dicas da Maria, da Monique e do Henry:
1. Crie uma reserva de emergência - Evite crédito e esteja pronto para imprevistos
2. Pesquise, pechinche e compre - Já que tem de gastar, que seja com sabedoria
3. Use o cartão de crédito e o parcelamento a seu favor - Aumente o poder de compra sem pagar juros
4. Tenha um orçamento fixo equilibrado - As contas devem ser sempre menores que a renda
5. Faça gastos inteligentes que tragam retornos - Existem compras que funcionam como investimentos
6. Permita-se pequenos luxos - Ninguém é de ferro, não é mesmo?
7. Estabeleça prioridades e objetivos - Diga não aos impulsos e mantenha o foco
8. Arrisque - Há mudanças que vêm para o bem
Autor: Isabel Filgueiras
Fonte: Valor Investe