terça-feira, 18 de agosto de 2020 07:05
Brasil fica em 43° lugar em ranking global de previdência, que revela dados preocupantes sobre a aposentadoria no país
Em continuação a matéria do mês passado...
O InfoMoney contatou especialistas em previdência e planejadores financeiros para discutir o cenário da previdência no país.
Situação do Brasil
A nota de 3,98 (sendo a nota máxima um e a mínima sete) do Brasil no ranking geral mostra que o país ainda tem muito a evoluir em termos de qualidade do sistema previdenciário como um todo.
Segundo o estudo, a margem financeira (4,82) do Brasil é relativamente baixa (e já era mesmo antes da pandemia). “E em nenhum outro país da América do Sul o envelhecimento da população será tão rápido quanto no Brasil: a taxa de idosos inativos economicamente quase triplicará nas próximas três décadas, para cerca de 36%”, diz o estudo.
Para Juliana Inhasz, economista e professora do Insper, a percepção que as pessoas têm de que vão viver da renda que o estado fornece ao envelhecer, é outro fator que contribui para os fracos resultados do país na pesquisa. O envelhecimento da população – aliado à baixa contribuição ao INSS e a um sistema que permitia que os cidadãos se aposentassem mais cedo – agravou o rombo da previdência ao longo dos últimos anos.
A situação histórica e estrutural do país também não favorece. A desigualdade de renda faz com que os benefícios recebidos pelas classes mais vulneráveis sejam suficientes apenas para cobrir os gastos com subsistência. O cenário inflacionário, que por muito tempo foi visto no Brasil, é outro fator que contribuiu para que os brasileiros não formassem uma poupança, problema que se acentua com a crise econômica que o país enfrenta desde 2014, e que se aprofundou com a pandemia.
“Com tudo isso somado, quem mais precisaria ter essa poupança para conseguir ter uma velhice tranquila são as pessoas que não conseguem poupar. É uma situação estrutural complicada”, explica Juliana.
Mesmo após a Reforma da Previdência, o Brasil ainda possui um sistema previdenciário desigual: enquanto a pontuação de ‘sustentabilidade’ (4,3) está abaixo da média global, a pontuação de ‘adequação’ (3,2) está muito acima, graças à boa cobertura e ao tamanho dos benefícios.
Embora o país já tenha feito grandes progressos para melhorar o sistema, “não se pode permitir uma ‘fadiga’ da reforma aprovada recentemente: o trabalho ainda não está concluído”, diz outro trecho do estudo.
Com a dificuldade de avançar na formulação de políticas públicas contínuas para a previdência, o Brasil pode ter no futuro “um exército de pessoas idosas em situação de extrema fragilidade econômica e social por não terem nenhum tipo de renda”, diz a economista do Insper, que reforça que o cenário projetado pode ocasionar outros problemas de ordem pública e social.
“Vamos ver pessoas mais velhas se sujeitando a condições de trabalho, que não serão as que elas estavam esperando, para ter alguma garantia de sustento, porque talvez o sistema lá na frente não consiga bancar. A gente corre o risco de ter uma perda de bem estar social grande, sem contar todas as pressões sociais que acabam nascendo diante desse cenário”.
Autor: Giovanna Sutto, Pablo Santana
Fonte: InfoMoney