sexta-feira, 16 de abril de 2021  08:19

Saiba o que é reserva de emergência e por que você precisa ter uma




Uma das primeiras orientações de qualquer planejador financeiro para quem está começando a organizar os bolsos é
criar uma reserva de emergência – e o quanto antes. Ter e investir esses recursos é considerado o primeiro passo para uma vida financeira equilibrada e sem sobressaltos. Mas como começar? Com quanto? E onde aplicar o dinheiro guardado?


O que é reserva de emergência e para que serve

A reserva de emergência é uma economia realizada ao longo do tempo que seja capaz de bancar suas despesas
mensais fixas por um determinado período, que deve ser acionada quando a pessoa sofre uma queda repentina de renda ou tem custos elevados também de maneira inesperada.

Formar uma reserva de emergência é o primeiro passo para ter uma vida financeira equilibrada e para manter a saúde
mental em dia. Esse “colchão” fornece tranquilidade psicológica para as pessoas, pois funciona como uma espécie de seguro para casos como uma demissão inesperada, o surgimento de uma doença na família ou outra situação imprevista.


Quem deve ter reserva de emergência

É um consenso entre os planejadores e assessores financeiros que todas as pessoas devem ter uma reserva de
liquidez. “A reserva de emergência é essencial para o planejamento financeiro dos investidores”, diz Ilda Spritzer, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autora de A bolsa no bolso: Fundamentos para investimentos em ações.

“Ao mesmo tempo que fornece um colchão de proteção, impedindo que as pessoas entrem em dívidas, os recursos
também permitem que a parte da carteira voltada para objetivos como aposentadoria seja alocada em produtos de longo prazo, tendo um retorno mais atrativo”, explica Ilda. Isso vale para todos os tipos de investidores: desde os iniciantes e conservadores até os experientes e agressivos.


Qual é o valor ideal

Se a necessidade de ter uma reserva de emergência é consensual entre os especialistas, o tamanho que ela deve ter
gera dúvidas. E isso acontece porque pessoas diferentes vivem situações distintas e têm necessidades específicas.

Para a planejadora financeira Leticia Camargo, o valor deveria ser o equivalente a três a 12 vezes os gastos mensais.
Assim, quem tem despesas médias mensais de R$ 2 mil deveria acumular uma reserva de emergência de, pelo menos, R$ 6 mil a R$ 24 mil. Isso garantiria à pessoa tempo para reestruturar sua situação sem maiores sobressaltos. Ilda sugere guardar o suficiente para se bancar durante seis meses a um ano.

Para definir o tamanho da reserva de emergência, as especialistas recomendam considerar as condições específicas
de cada um, entre elas:

Regularidade das receitas: quanto maior ela for, mais previsível tende a ser o volume de recursos que a pessoa poderá
gastar e será capaz de poupar. O funcionário de uma empresa, via de regra, recebe o mesmo salário todos os meses. Já um profissional autônomo pode ter variações de renda de um mês para o outro, agregando maior instabilidade ao seu
orçamento pessoal;

Empregabilidade: uma das emergências financeiras mais comuns é a perda do emprego. A depender da facilidade com que a pessoa conseguiria se recolocar no mercado de trabalho, o tamanho da sua reserva deveria ser maior ou menor. Quem atua em áreas muito específicas, com pouca oferta de vagas, ou está com a formação defasada tende a levar mais tempo para conseguir um emprego novo, por exemplo;

Compromissos já assumidos: também faz diferença na hora de estabelecer um valor para a reserva de emergência os
gastos que a pessoa já possui e que não podem ser interrompidos. Alguém que tenha um financiamento imobiliário, por exemplo, ou que banque o plano de saúde dos pais idosos sabe que esses gastos persistirão mês após mês, havendo uma
emergência ou não;

Outros produtos financeiros que a pessoa já possua, como seguros de vida, de residência ou de automóvel, que oferecem segurança para alguns casos específicos de emergências;

Perfil de risco do investidor: é necessário lembrar que talvez seja necessário manter reservas de emergência
maiores a depender da composição do restante da carteira de investimentos da pessoa. Quem mantém, por exemplo, muitas aplicações em renda variável sabe que não pode dispor delas a qualquer momento – e, nesse caso, pode ser importante
reforçar o volume de recursos guardado especificamente para imprevistos.


Como criar uma reserva

É muito difícil conseguir acumular uma reserva de emergência sem antes avaliar a própria vida financeira. Revisar
todos os seus gastos – dos essenciais aos supérfluos – e fontes de renda é a melhor maneira de começar esse trabalho.

Organize seu orçamento identificando gargalos financeiros e excessos, liberando espaço para realmente começar a poupar. Estabeleça um valor mensal para guardar e destine-o à reserva de emergência o mais cedo que conseguir – não espere
“sobrar dinheiro” para poupar e investir, sob o risco de nunca sobrar nada para isso.

Se possível, automatize essas economias, estabelecendo transferências agendadas mensalmente. Isso vai
ajudá-lo a não contar com esses valores para bancar as despesas cotidianas da casa ou da família.

Ainda mais importante do que o valor poupado é a consistência dessa economia, que é um ponto a favor dos mais
organizados. Não pare de guardar dinheiro para a reserva de emergência até que ela tenha atingido o valor que você estabeleceu como sendo o ideal.


Onde investir a reserva de emergência

Faz sentido manter a reserva de emergência aplicada em ações? Ou em fundos imobiliários? Ou em títulos públicos
do
Tesouro Direto atrelados à inflação?

Para descobrir, você precisa saber quais são as duas principais características que devem existir nos
investimentos aos quais destina sua reserva de emergência: alta liquidez e baixo risco. De fato, uma característica decorre da outra, e você vai entender a razão.

“É importante lembrar que a reserva de emergência tem que ser composta de investimentos que possam ser resgatados
no mesmo dia ou, no máximo, no dia seguinte”, sugere Ilda. Se estamos falando de imprevistos, é de se supor que a demanda por recursos causada por eles ocorra imediatamente também.

O nível de facilidade para resgatar um investimento – ou transformá-lo em dinheiro vivo – é o que chamamos de
liquidez. Por isso dizemos que a reserva de emergência precisa ser aplicada em produtos financeiros de liquidez elevada.

Essa característica está presente principalmente nos investimentos de baixo risco, o que também é um elemento
importante nesse caso. Como esses recursos podem ser demandados a qualquer momento, não há tempo para esperar e resgatá-los “quando o mercado melhorar”. É preciso que estejam disponíveis em aplicações seguras e livres de grande
volatilidade.

É claro que a alta liquidez e o baixo risco têm um preço – e ele é cobrado na rentabilidade, que costuma ser
menor do que a de produtos mais sofisticados. Por isso, o ideal é encontrar alternativas que ofereçam um retorno suficiente para, pelo menos, repor a inflação.

Por essas e outras, os produtos que normalmente são os mais indicados para a reserva de emergência são títulos
públicos do Tesouro Nacional que oferecem como remuneração a
taxa básica de juros (Selic), conhecidos como Tesouro Selic, CDBs (certificados de depósito bancário) de grandes bancos que paguem a taxa do CDI, além dos conhecidos fundos DI.

A escolha entre as opções mais indicadas precisa considerar as características de cada produto específico, com
destaque para os custos. Como são alternativas de baixo risco e rentabilidade relativamente menor, custos operacionais elevados são um problema, já que podem abocanhar uma parcela considerável do retorno.

Para investir nos títulos Tesouro Selic, por exemplo, vale a pena buscar corretoras que não cobrem taxa de
administração para intermediar os negócios. O mesmo vale para os fundos DI: ainda existem opções com taxa de administração desproporcionalmente elevada, em relação à rentabilidade que oferecem. É necessário evitá-los.

No caso dos CDBs de baixo risco, a remuneração normalmente é expressa como um percentual do CDI – como 100% ou 120% do CDI, por exemplo. É importante buscar taxas elevadas, mas atentar para o risco e a liquidez. Em geral, as remunerações mais generosas são oferecidas por instituições com maior risco de crédito ou em papéis que
precisam ser mantidos por um prazo maior pelo investidor, não podendo ser resgatados a qualquer momento.


Quando usar a reserva de emergência

O nome já diz, mas não custa lembrar: a reserva de emergência só deve ser usada em urgências e situações inesperadas. Vale a pena pensar nela como uma espécie de seguro, em que o principal objetivo é ter, mas não precisar acionar.

Faz sentido recorrer a ela nos momentos em que há um aumento repentino das despesas – com saúde, educação ou
dívidas imprevistas, por exemplo – ou uma redução brusca das receitas, causada por situações como o desemprego. Ela não serve para bancar gastos não essenciais, como o pagamento do cartão de crédito usado para consumo supérfluo ou férias e
viagens. “Depois de usada em uma situação de imprevisto, a reserva de emergência deve ser recomposta o mais brevemente possível”, diz Letícia.

Se o tempo passou, a reserva de emergência acabou e a renda continua baixa (ou as despesas extraordinárias,
altas), é preciso avaliar o que fazer. “Quem não tem outros recursos deve reduzir os gastos mensais ao máximo e procurar fontes de renda alternativas.
Vale inclusive pensar na venda de ativos que não estejam em uso, pensando em reduzir o risco de endividamento”, sugere Ilda.

Assim que a situação normalizar, é preciso tomar uma atitude mais drástica: elabore um orçamento mensal prevendo
que você irá aplicar – sem falta – uma parte do seu salário nos investimentos da sua reserva de emergência. Transforme isso em um hábito que nunca deve ser esquecido ou abandonado.

Já para quem possui outros investimentos de longo prazo, a especialista indica remanejar parte do capital
de outras aplicações para recompor a reserva de emergência, de modo que o dinheiro fique aplicado em produtos adequados para o curto prazo. “Aliás, considere a liquidez e o retorno dos outros investimentos a valor de mercado
antes de resgatá-los. Em um cenário de crise, por exemplo, eles podem ter sentido o impacto.”

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Fonte: InfoMoney