quinta-feira, 9 de junho de 2022 09:08
Para começar, do ponto de vista histórico a vida financeira da mulher é muito recente.
No último ano, três pesquisadores brasileiros da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo trabalharam para responder a uma pergunta: “o que prejudica as finanças das mulheres?”. Eles analisaram 130 artigos científicos publicados entre 1990 e 2020 e concluíram que muitos elementos familiares, individuais, comunitários e sociais interferem nas finanças femininas.
Mas em destaque temos o casamento como um desses elementos, que de modo positivo traz uma sensação de bem-estar, de segurança financeira e soma de receitas. Contudo, outros elementos que têm relação direta com o casamento afetam diretamente a prosperidade financeira das mulheres. O primeiro é a maternidade. Sabemos o quanto esse fator pode afetar a nossa garantia de empregabilidade e renda. E, se ainda não bastasse, a pesquisa aponta que depois da maternidade os salários tendem a reduzir em até 9%. Ou seja, se os salários já não são iguais entre homens e mulheres, piora para mulheres mães. Violência doméstica e acúmulo de tarefas – em média as mulheres realizam em torno de 21 horas semanais de trabalhos domésticos e os homens apenas 11 horas – completam a lista.
Para os pesquisadores, diante dessas diferenças e dificuldades atribuídas ao universo feminino, é estratégico o desenvolvimento de projetos e políticas na área de finanças voltados especificamente para mulheres. Dito isso, você pode estar com uma pergunta: é realmente importante as mulheres consumirem conteúdos de educação financeira voltados para elas?
Para começar, do ponto de vista histórico a vida financeira da mulher é muito recente. No Brasil, ela só pôde abrir conta bancária a partir de 1962. Antes disso, ela tinha de pedir autorização para o marido ou para o pai. Assim, sempre que precisava fazer qualquer coisa, era o homem do contexto social dela quem tomava conta, quem se responsabilizava. Se observarmos atentamente, ainda hoje, por questões culturais e não mais de cunho legal, é comum as mulheres delegarem para algum homem do seu contexto social a tarefa de cuidar das finanças.
Curiosamente, isso é muito contraditório, porque geralmente somos nós mulheres que cuidamos do orçamento doméstico, do dinheiro do dia a dia na nossa família. Mas não cuidamos do patrimônio. O resultado é que, em casos de divórcio, o padrão de vida da mulher tende a cair. Em 67% dos casamentos que acabam, o padrão de vida da mulher diminui em até 70%, e muito porque ela até então via o casamento como uma forma de segurança financeira.
Isso acontece porque, apesar do direito de cuidar do próprio dinheiro, pouco ou quase nada se ensinava a respeito do tema para elas. As mulheres cresceram sem o devido preparo para ir além do orçamento doméstico. Por essa razão, é importante criar políticas e conteúdo específico para o público feminino. Ao nichar, o assunto é apresentado dentro da realidade feminina e em uma linguagem mais adequada. Palestras, presenciais ou não, mas que reúnam apenas mulheres são uma forma de fazê-las se sentirem mais à vontade, para perguntar o que pode parecer óbvio e compartilhar erros.
No entanto, essa separação não pode ser eterna. A educação financeira focada no feminino tem o objetivo de inclusão, de mostrar o problema e dar à mulher o conhecimento necessário para que ela seja bem-sucedida ao resolvê-lo sozinha. De participar do mercado em igualdade de condições. Quando, no futuro, o cenário for outro, claro que essa necessidade tenderá a ser menor. Ficar em uma bolha é importante no começo, mas para crescer é preciso estourá-la.
Contudo, a dificuldade maior está diretamente ligada à desigualdade salarial. De acordo com uma pesquisa da Anbima, que ouviu 5,8 mil pessoas de todas as classes sociais, as mulheres que não têm o hábito de investir representam 72% da população feminina. E não ter dinheiro é a explicação da maioria para esse fato. Com salários 34% menores do que os colegas homens, o desafio de esticar a renda é mais uma tarefa estafante para as mulheres. Mas, uma boa educação financeira é capaz de ajudar a melhorar essa realidade e otimizar a relação que elas têm com o dinheiro para fazer boas escolhas e ganhar ainda mais confiança. Porém, só consegue fazer isso quem tem conhecimento.
Autor: Charys Oliveira
Fonte: Jornal Contábil