terça-feira, 13 de novembro de 2018  06:33

Insegurança com a Previdência Social - Importância de poupar desde a infância




Sabrina Mestieri aprendeu desde cedo a economizar e a dar valor ao seu dinheiro. Aos 10 anos de idade chegou à conclusão de que seria errado utilizar o dinheiro dado a ela pela mãe para comprar um presente de Dia dos Pais. Ela passou, então, a dividir todo o dinheiro que recebia dos pais em envelopes conforme a destinação das quantias. Este é um dos métodos que Sabrina hoje, aos 34 anos, casada, mãe de um menino de 6 anos e de gêmeos de 4 anos, utiliza na educação financeira dos filhos e de outras famílias.
“Os livros de educação financeira não falam para crianças dessa idade; falam para crianças a partir de 8 anos. Achei que meus filhos poderiam aprender isso antes”, afirma ela, jornalista especializada em negócios que desenvolve o projeto “Crianças e Finanças”, com palestras e cursos sobre o tema. O programa mostra às crianças para que serve o dinheiro e incentiva o consumo e a organização da poupança por meio de uma carteira com divisões por cores, recompensas pelo desempenho escolar e um quadro de compromissos que resultam em estrelas trocadas por moedas.


Sabrina é apenas um dos casos de famílias que, em meio à insegurança em relação ao acesso futuro à aposentadoria proporcionada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), preocupam-se em ensinar os filhos a poupar desde cedo para garantir o seu futuro.
A coach de educação financeira Sabrina Espíndola, de 37 anos, tem uma filha de 6 anos e conta que ela e seu marido se esforçam para mostrar à criança a importância do dinheiro e do seu bom uso. “Digo que precisamos ganhar dinheiro para depois gastar; negociamos com ela os presentes e explicamos quando alguma coisa está cara e que não dá para comprar. Demos à Joana um porquinho de cofrinho para juntar dinheiro”, relata.
De acordo com o economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro, o baixo crescimento econômico do país e os juros altos são outros motivos que explicam o estímulo das famílias à poupança dos filhos. “A conscientização é muito importante e, quanto mais cedo você começar a se preocupar com isso, mais fácil será as crianças crescerem em um ambiente de educação financeira”, afirma.

Números do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostram, entretanto, que o hábito de poupar e de se planejar ainda não é uma realidade para a maior parte dos brasileiros. Conforme estudo divulgado em abril desse ano, 8 em cada 10 brasileiros (78%) admitem que não estão se preparando para a hora de se aposentar. A idade média em que os entrevistados começaram a poupar para a aposentadoria é de 28 anos.

Previdência pública versus privada

Outro efeito das dificuldades econômicas do país e da insegurança em relação à aposentadoria do INSS ser insuficiente é a busca pelos planos de previdência privados.
O advogado previdenciário Thiago Luchin, entretanto, alerta que a previdência privada deve ser utilizada apenas como um complemento ao INSS e nunca como substituta. “Na previdência privada, o valor a ser investido é muito maior com um retorno e benefícios menores. Com as notícias sobre a Reforma da Previdência muitas pessoas deixaram de contribuir, com medo de que estariam jogando dinheiro fora. Esse é um grande equívoco, porque a Previdência Social é um recurso importantíssimo que, quando investido corretamente, gera uma renda segura e fundamental para o trabalhador”, defende o especialista do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados.


Para ele, o governo deve ser responsável pelo trabalho de educação e conscientização previdenciária. “Falta um programa de incentivo previdenciário por parte do governo, assim como educação nas escolas e dentro de casa. Com isto, as pessoas só vão perceber a necessidade de ter uma previdência próxima dos 30 anos de idade, retardando o momento de se aposentar e perdendo possíveis benefícios como, por exemplo, o salário-maternidade e o auxílio-doença”, analisa Luchin.
O economista e professor de ciências econômicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), Ramon Fernandez, aborda a discussão sob a ótica social e comportamental. “Depois de algum tempo contribuindo com a sociedade, as pessoas ganharam o direito de deixar de trabalhar mesmo quando ainda poderiam continuar produzindo. A questão básica que se coloca é: de onde deveriam sair os recursos para manter essas pessoas?”, questiona.


Para o economista, é possível ver a previdência como um problema individual, no qual cada pessoa traça sua estratégia financeira, ou de todos, como um planejamento do Estado para o bem da sociedade. Fernandez também afirma que a literatura econômica mostra que os seres humanos têm dificuldade de calcular a poupança de recursos em relação ao pós-aposentadoria, pois ninguém sabe o quanto irá viver. Outra questão é que boa parte da população brasileira não tem condições de atender adequadamente às suas necessidades correntes e, menos ainda, de poupar para o sustento futuro.
Sem acreditar no apoio do Estado, entretanto, a jornalista e idealizadora do projeto “Crianças & Finanças”, Sabrina Mestieri, defende que o ideal seria focar menos nos programas sociais e gerar mais conhecimento em educação financeira. “Há uma cultura de falta de educação financeira, o que faz com que os empresários tenham que ter um conhecimento de gestão não só para si, mas para o funcionário. Existe uma parcela da população muito grande que é dependente de programas sociais e não é possível tirar isso da noite para o dia e deixar as pessoas na miséria, pois elas não são educadas para isso (o planejamento financeiro)”, reflete.  

Autor: Arthur Gandini

Fonte: PrevTotal